Programa de Recuperação e Reabilitação "Chiado com Cor"

Identificação Projecto:

Projecto de Recuperação e Reabilitação de Edificios inseridos no Programa "Chiado com Cor"
Data:

Setembro 2004
Objectivo:

Projecto de Execução/Acompanhamento Obra
Área de Intervenção:

Delimitada pela Unidade de Projecto Baixa-Chiado
Função:

Coordenador Projecto / Arquitecto Projectista
Autores:

Vítor Manuel Santos
Carlos Manuel Lucas Guerra
Janete Lente
Promotor:

Fundo Remanescente de Reconstrução do Chiado/CML
Local de Intervenção:

Chiado/Lisboa
Estado actual:

Obra Concluída

Através do Decreto-Lei n 321/2002 de 31 de Dezembro constituiu-se o Fundo Remanescente de Reconstrução do Chiado, para apoiar o esforço de reconstrução daquela zona histórica da cidade de Lisboa. Este Fundo tinha como objectivo a optimização de intervenção no processo de requalificação, que passava pelo repovoamento, modernização do tecido comercial, valorização dos monumentos, reabilitação de espaços de fruição colectiva e dinamização artística e cultural.

Assim sendo nasceu um dos Programas denominado “Chiado Com Cor”, o qual obedecia a uma serie de requisitos muito específicos, requisitos esses que teriam de ser observados pelos proprietários dos edifícios aquando a apresentação da sua candidatura ao dito programa. Este Programa tinha como objectivo a reabilitação de edifícios na zona do Chiado, em que a sua intervenção se estendeu às freguesias dos Mártires, Encarnação, Sacramento e São Paulo abrangendo no total 35 edifícios reabilitados, ficando 19 edifícios por reabilitar por motivos de ordem jurídica.


Delimitação da área de Intervenção do Programa “Chiado com Cor”


PRINCIPIOS DE INTERVENÇÃO:

As paredes exteriores do tipo de construção dominante são constituídas por alvenarias a taipal de pedra calcária e argamassas de cal aérea e inertes também calcários com argilas cuja função foi a de reagir com o carbonato de cálcio em fase de extinção, proporcionando elementos resistentes também à influência de humidade quer líquidas quer sob a forma de vapor.

É condição para que se diminuam factores de degradação destes elementos, que continuem a processar-se condições de respirabilidade, sob risco de se acelerarem as condições de degradação dos diferentes materiais.


A introdução de elementos de revestimento hidráulico, ou de revestimentos de tintas (por exemplo de membrana) que constituam barreiras à transmissão de vapor de água, à imagem daquilo que se assiste tem provocado a ocorrência de infiltrações no estado líquido do exterior para o interior e da coesão das próprias alvenarias.


Outro factor de degradação dos materiais pré existentes através da introdução de materiais cimentícios a partir dos fins dos anos 60 não é mais do que a resultante da incompatibilidade do pH dos próprios materiais.
Enquanto o endurecimento e coesão das argamassas de cal se dá por carbonatação, este processo degrada rapidamente as cimentícias.
Enquanto as argamassas de cal aérea, mesmo que hidrofugadas com recurso adequado a pozolanas artificiais, produzem impermeabilização à água líquida mas não à água no estado de vapor, as cimentícias criam barreiras de vapor que restringem a quantidade de trocas gasosas necessárias à “saúde” dos suportes.
A aplicação de modo apropriado de rebocos de cal aérea proporciona a possibilidade de serem utilizadas tintas que reajam quimicamente com os elementos inorgânicos. Assim, encarou-se a vantagem de serem aplicadas tintas de silicato de potássio que ao reagirem com o Carbonato de Cálcio do suporte e com o Anidrido Carbónico e a água vão produzir Carbonato de Potássio e Silicato de Potássio, conferindo assim condições para uma maior coesão dos suportes, por mineralização, e o aumento de condições de libertação de excesso de vapor de água resultante de tensões diferenciais entre paramentos e de águas de infiltração.
A adopção deste tipo de tinta implicou limitações à aplicação de cores conseguidas apenas por pigmentos orgânicos. Todavia, foram aplicadas cores cuja saturação era baixa e situava-se na Escala S0502 e S0505 do Atlas NCS (Natural Colour System).


Outro factor de degradação de suportes e revestimentos é constituído pelo recurso indiscriminado a sistemas de aparelhos de climatização ambiente e à fixação de cabos pelas concessionárias nos paramentos exteriores.
Foi implementado o recurso a sistemas de climatização colectivos colocados em locais de condomínio ou comuns, e com sistemas de condensação a água. Quanto aos cabos das concessionárias, alguns foram enterrados e com ramais de distribuição domiciliários em ductos a colocar à vista nos patamares. Os projectos de iluminação pública atenderam à especificidade do sistema construtivo e sofrerem pequenas alterações de modo a evitar a colocação de candeeiros chumbados a alvenarias e as respectivas caixas de alimentação salientes em relação ao plano das fachadas.
Outro factor de degradação de suportes e revestimentos é constituído ainda pela falta de sensibilidade dos ocupantes dos diferentes espaços a executarem operações de simples manutenção periódica tais como limpeza de vegetação parasitária das coberturas, ou ainda de impedirem o crescimento exagerado de plantas ornamentais em contentores e que crescem de forma desregrada.


Por último, um factor de degradação que se considera fruto da nossa sociedade, resulta da falta de preparação de empreiteiros e de alguns técnicos que não se encontram habilitados ou preparados para intervirem neste tipo de sistema construtivo.
No decurso das obras a decorrerem sob a égide de entidades públicas tutelares, torna-se necessário aos agentes de projecto instruírem o pessoal dos empreiteiros de modo a capacitá-los na execução de algumas operações sem o recurso a argamassas de cimento.

São válidos vários princípios de encarar a cor enquanto elemento de Arquitectura na iconografia de um determinado território urbano.

Quanto a nós, seria redundante o encarar esta questão como um elemento necessário ao estabelecimento de reconstituição histórica da imagem de um determinado local, por uma perspectiva estática sem atender à evolução do modo de pensar e de encarar os factos e das coisas criadas pelo Homem. A manifestação do pensamento através de um gesto de exibição é sempre condicionada por regras próprias ao contexto social em que se pratica, logo em patamares evolutivos diferentes daqueles que o vão observar.

Todavia, podem existir teorias mais polémicas do que outras, e que levam à mostra de valores individuais de quem os pratica, e à não integração por analogia expressa de um conjunto que se procure homogéneo em termos de imagem.

Existem excepções, e que podem constituir exemplos raros, mas bons, de como de forma arrojada se constituem objectos adaptáveis ao longo do tempo a um território consolidado. Não pode constituir, nestas circunstâncias, um exercício de estilo, mas sim um acto resultante de uma profunda reflexão intelectual num quadro de maturidade profissional. Se assim não for, arriscamo-nos a que a efemeridade do gesto que leva a “Moda” a condicionar o gosto próprio de cada indivíduo, e a condicionar o respeito ou o desrespeito pelo objecto já existente, a meras questões de “seguidismo social” que acarretam a exibição de valores por vezes não assimiláveis ao todo social para quem se destina o espaço público.

Existindo vários níveis de percepção, uns mais imediatos do que outros, torna-se um desafio para o Arquitecto intervir de forma não imediatista e que constitua motivo de agrado para além dos primeiros tempos de vida do objecto em que participou.

A dinâmica urbana das cidades mais consolidadas, se por um lado deve ser condicionada pela manutenção de pré existências marcantes da sua identidade, deve permitir adaptações à contemporaneidade. Para essas adaptações devem concorrer os técnicos que de forma mais avisada evitem a ocorrência de situações irreversíveis em matéria de danos no edificado isolado e de conjunto.
Constituem exemplos elucidativos da ausência constante desta postura a aplicação de rebocos hidráulicos, principalmente em suportes tais como o de alvenaria gaioleira a taipal, ou a substituição de abóbadas de alvenaria em tectos de pisos térreos por elementos de aço ou de betão armado, ou a fixação indiscriminada e aleatória de cabos em paramentos exteriores de edifícios.
O percurso efectuado pelo transeunte num determinado espaço urbano é determinado por vários factores, alguns deles influenciados por factores geográficos, tal como a altura e o azimute solar, a declividade das vias, e ainda pela ocorrência de factores de surpresa ou de continuidade.
Os limiares de adaptação à ocorrência da inovação do espaço urbano pelo transeunte não são tão rápidos quanto seria esperado. Todavia, de forma voluntária, a sensação de cansaço, de rotina, ou de irritabilidade pode ser atenuada se a harmonia entre a forma e a cor num determinado percurso lhe for transmitida de forma não contrastante.
Em termos sociais e a nível do indivíduo o factor provocação suscita em geral respostas de sinal idêntico. 
Mediante reserva de crítica a estabelecer aquando da finalização de um estudo mais global para o território, onde seja possível adicionar outros critérios, como por exemplo o de função, e de alterar a orientação de fluxos de tráfego geradores de perturbações ambientais (poluição sonora e de emissão de gases de combustão), considera-se que para já o tráfego automóvel, em virtude da forte declividade da via e da acessibilidade a outros locais do território irá ser mantida.
Este factor de perturbação implica a aplicação de tintas facilmente laváveis, bem como a utilização de veículos que não sejam atacáveis por influência de hidrocarbonetos, bem como de superfícies lisas, a fim de evitar a acumulação de resíduos e poeiras.

A exposição à radiação solar química (ultra violetas) implica a utilização de tintas com pigmentos estáveis.

Para além do factor adulteração cromática, a exposição, juntamente com o factor poluição recomenda a aplicação de tintas cujo teor de matérias orgânicas (mais atacáveis quimicamente) seja reduzido (até 5% - norma DIN 18363).

Os alçados, têm uma visibilidade de outros pontos de observação do território, pelo que a escolha do elemento cor, se poderá traduzir na criação de uma mancha não integrável em termos urbanos num conjunto que se pretende homogéneo.

A orientação solar implica também a existência de gradientes térmicos importantes na fachada, o que proporciona dilatações diferenciais nos substratos do mesmo plano, e de águas de condensação, embora que atenuadas pelo efeito de ventilação decorrente dos ventos dominantes (Norte) que se fazem sentir na altura de maior ocorrência, e podem provocar o aparecimento de ácido carbónico, embora pouco estável, mas que reagirá certamente com materiais existentes.


Rebocos e Pinturas em edifícios que ainda não foram sujeitos a intervenção mais profunda.


Rebocos e Pinturas em edifícios que foram sujeitos a intervenção mais profunda.



Tratamento anti-graffiti em paramentos exteriores.


Carpintarias


Serralharias




Apresenta-se assim o mapa geral dos edifícios intervencionados:
- Rua das Gáveas 8 a 16 (Encarnação)
- Rua das Gáveas 60 (Encarnação)
- Rua do Alecrim, 27 a 35; Travessa do Alecrim (Encarnação)
- Rua do Alecrim, 55 a 57; Rua das Flores, 28 a 30 (Encarnação)
- Rua António Maria Cardoso, 23 a 29 (Encarnação)
- Largo da Academia das Belas Artes, 13 a 15 (Mártires)
- Rua Vítor Cordon, 24 a 26; Rua Serpa Pinto, 1 (Mártires)
- Rua Vítor Cordon, 26 a 32 (Mártires)
- Calçada Nova de São Francisco, 10 (Mártires)
- Rua Ivens, 45 a 51; Calçada Nova de São Francisco (Mártires)
- Rua Ivens, 68 a 76 (Mártires)
- Rua Garret, 13 a 23 (Mártires)
- Rua Nova do Almada, 89 a 101 (Mártires)
- Rua Capelo, 6 a 12 (Mártires)
- Rua Capelo, 24 a 26; Rua Anchieta (Mártires)
- Rua do Carmo, 51 (Sacramento)
- Travessa do Carmo, 1 a 4; Rua Serpa Pinto, 16 (Sacramento)
- Rua Nova da Trindade, 1 (Sacramento)
- Rua Almirante Pessanha, 16 a 22 (Sacramento)
- Calçada do Carmo, 40; Rua do Duque, 4 (Sacramento)
- Rua do Duque, 6 a 10 (Sacramento)
- Rua do Duque, 14 (Freg. Sacramento)
- Rua da Condessa, 4; Calçada do Carmo (Sacramento)
- Rua da Condessa, 64 (Sacramento)
- Rua do Duque, 43 a 45 (Freg. Sacramento)
- Rua Oliveira ao Carmo, 22; Rua da Condessa, 33 a 37 (Sacramento)
- Travessa João de Deus, 3 (Sacramento)
- Rua Oliveira ao Carmo, 53 (Sacramento)
- Rua Oliveira ao Carmo, 41 (Sacramento)
- Rua Oliveira ao Carmo, 59 a 63 (Sacramento)
- Rua Ivens, 35 a 43 (Mártires)
- Rua Capelo, 1 a 9 (Mártires)
- Rua Nova da Trindade, 2 / Largo do Chiado, 25 (Mártires)
- Rua das Flores, 14 a 20 (São Paulo)
- Travessa João de Deus, 3 (Sacramento)
De seguida apresenta-se alguns edifícios tipo com o descritivo de evolução dos trabalhos, nomeadamente:
 
- Rua Ivens, 35 a 43
- Rua Capelo, 1 a 9
- Rua Nova da Trindade, 2 / Largo do Chiado, 25
- Rua das Flores, 14 a 20
- Travessa João de Deus, 3
 

Rádio e Televisão de Portugal


Identificação Projecto:

Nova Sede R.T.P. / R.D.P.
Data:

Fevereiro 2003
Objectivo:

Licenciamento / Projecto de Execução
Área de Intervenção:

14000 m2
Função:

Coordenador Projecto / Arquitecto Projectista
Autores:

Vítor Manuel Santos
Carlos Manuel Lucas Guerra
Janete Lente
Promotor:

BPN Imofundos-Banco Português de Negócios/RTP
Local de Intervenção:

Avenida Marechal Gomes da Costa, 37
Estado actual:

Obra Concluída

Tratou-se de um Projecto de Recuperação e Reabilitação das antigas instalações da DIALAP para as novas instalações da RTP/RDP para fazer face a novas necessidades da Instituição que culminaram com o abandono da 5 de Outubro.
Edifício da antiga fábrica de lapidação de diamantes e recentemente sede da Parque Expo, foi convertido com o objectivo de responder aos novos desafios do canal de televisão nacional. Tratando-se de um edifício técnico houve necessidade de reabilitar elementos de construção civil e construir outros espaços de raiz, nomeadamente um Auto-silo e os Estúdios.

Começando inicialmente por trabalhos de demolição, houve cuidados a ter em conta como por exemplo a separação de resíduos para reciclagem.




Em simultâneo decorriam os trabalhos de movimentação de terras para implantação dos futuros estúdios e auto-silo



A nível de reabilitação foram executados os mais diversos trabalhos em revestimentos, caixilharias (mantiveram-se as originais em 80% do edifício), elementos estruturais e outros.





Trabalhos de reforço estrutural para fazer face ás novas solicitações a que a estrutura ia estar sujeita.




A adaptação á nova legislação da Segurança Contra Riscos de Incêndio obrigou á criação de novas instalações e saídas de evacuação, sendo esta a mais marcante no edifício.




Algumas imagens dos interiores em fase de conclusão









Exteriormente apresenta-se como um edifício limpo e revitalizado em que se manteve a mesma linguagem expressa pelo se criador nos anos 50, o Arquitecto Carlos Ramos.